Thursday, March 15, 2007

E você, ainda manda arranjar o seu aspirador?



O ferro avariou? Lixo. O aquecedor já não funciona? Livremo-nos dele. O aspirador deu o último suspiro? Adeus. Se há muito vivemos numa sociedade de consumo descartável, despejando no caixote fraldas, máquinas de barbear, copos e talheres, a verdade é que os objectos de curta duração estão a aumentar de tamanho. Cada vez mais, os próprios electrodomésticos são feitos para usar e deitar fora. Encontrar quem os arranje é difícil; arranjar quem o faça a preços competitivos é praticamente impossível.Os baixos preços a que são comercializados, a qualidade de fabrico duvidosa e a dificuldade em consertá-los, por falta de peças, são apenas alguns dos motivos que levam a que se troque de batedeira, varinha mágica e secador de cabelo como quem troca de camisa.Por isso, são cada vez mais os estabelecimentos que simplesmente se recusam a consertar "coisas pequenas", como admite a funcionária da casa TV Nando. "Ainda hoje cá esteve uma senhora para arranjar um calorífero e tive de recusar. Então se a fábrica de resistências já fechou e tudo!"Esta é também a conclusão de Fátima Martins, da Associação Portuguesa de Defesa do Consumidor (Deco): "Para grande parte dos produtos de maior volume compensa a reparação. Mas os mais pequenos até se tem dificuldade em arranjar quem repare o produto e, normalmente, sai mais barato comprar novo. Aliás, estas são regras de simples bom senso."Para o sociólogo Beja Santos, especialista em matéria de consumo, actualmente é óbvio que "tudo quanto está na cozinha é praticamente semiduradouro". E, por isso, "não nos passa pela cabeça, em princípio, mandar reparar a torradeira ou a varinha mágica fora do período de garantia", afirma.Resistir até ao fim Ainda assim, há quem insista em contrariar esta realidade. Marcelo Fernandes, proprietário de uma casa de reparações de electrodomésticos, afirma que "a sorte do português é ser desenrascado e ir sempre arranjando soluções". E denuncia que "muitas vezes são as próprias marcas a dificultar a vida" aos técnicos, por não colocarem no mercado peças suplentes em quantidade suficiente para o número de avarias existentes. Ou então fornecem os materiais "a preços exorbitantes": depois de feito o orçamento, chega-se à conclusão que não compensa reparar e que "mais vale comprar um novo".Por tudo isto, os conhecidos biscateiros de bairro são uma espécie em vias de extinção, apesar de as empresas de reparações verem o seu volume de trabalho aumentar (ver texto na página seguinte). Na opinião de Marcelo Fernandes, a origem desta sobrecarga está directamente relacionada com o facto dos consumidores preferirem "o barato à qualidade". É fundamental que, antes de tomar qualquer decisão, "o consumidor faça as contas entre o preço do aparelho e o orçamento, que deve em qualquer circunstância pedir", aconselha a técnica da Deco Fátima Martins.Todos estes argumentos fizeram repensar a noção de qualidade-preço, de hábitos de consumo e da cultura do indispensável. "A nossa casa é hoje um local de trabalho, aqui empreendemos com objectos nómadas que têm de ser confortáveis numa casa multiusos, onde os electrodomésticos devem corresponder a vários desafios", analisa Beja Santos.Cuidados reparadoresE o que acontece se, resolvendo mandar consertar os electrodomésticos, o serviço de reparação é mal prestado? Em termos gerais, são identificados três tipos de problemas: "Os métodos técnicos, a honestidade e a facturação." Estes são transversais em todos os estudos realizados pela associação.Os métodos de reparação desadequados têm implicações em termos de custos "por substituição de peças desnecessárias ou nem sequer realizadas". É aqui que entra a desonestidade dos reparadores, "que é marginal face ao que é prática corrente no mercado. Mas, quando acontece, o consumidor não tem meios de provar que existiu fraude", admite Fátima Martins.Quanto às facturas, as imprecisões estão relacionadas com a identificação incorrecta do aparelho, com a data da reparação e com a descrição do trabalho efectuado. "Se alguma vez o consumidor detectar um problema com a reparação e se a factura não tiver estes elementos, terá dificuldade em reclamar um trabalho de reparação mal feito", observa.Fim de vida útilDeterminado o fim de vida dos electrodomésticos, os munícipes lisboetas devem fazer um pedido para o gabinete de relações públicas da Câmara Municipal para se desfazerem dos objectos.Ângelo Mesquita, director municipal de Ambiente Urbano, explica que depois de feita a solicitação "a recolha demora, normalmente, 24 horas". Em seguida o objecto é entregue à ValorSul, que faz o seu encaminhamento para as entidades recicladoras (ver caixa em cima). "Este é um serviço relativamente solicitado. Mas ainda acontece as pessoas abandonarem os objectos na via pública, não por falta de conhecimento, mas por falta de civismo. É por isso também que os ecopontos são mal utilizados", lamenta o responsável pelo serviço municipal.São várias as câmaras municipais do País que dispõem deste serviço.
Fonte: Jornal Diário de Notícias de 25/02/2007

1 comment:

Anonymous said...

Olá a todos/as!

Já encontrei espaço para a criação do Clube!

Quanto ao blog, um conselho os artigos devem ser escritos por parágrafos. Senão é muito texto para ler de uma vez só.

Um abraço,

Sofia